Ouviam algum som que entrava pela janela aberta, junto com a luz daquele dia tão quente de março. Mas sabiam estar protegidas no aposento aconchegante, regadas pela brisa que circulava pela casa. A criança brincava com um pedaço de papel, no qual havia uma pessoa desenhada, e a dona-de-casa (que não tinha conta bancária na Suíça) procurava ocultar a preocupação com a movimentação lá fora, apesar do aparente afastamento. A verdade é que por mais distantes que pareçam, certos problemas nascem dentro de nossas mentes, em nossas almas, para que um dia venham à tona, numa reação em cadeia que poucos conseguem administrar.
-Mamãe… Os índios são maus?
-Não, minha querida… Apenas amam a terra.
-Mas mamãe… Eles matavam!
-Sim querida… Mas a guerra é assim mesmo, as criaturas matam e lutam para sobreviver. Índios mataram negros e brancos naquele tempo. Hoje não é muito comum ver um índio ou branco por aí. Ainda assim, não desista…
-Os brancos… Eles eram feios, né?
-Ah, meu bem… Apenas outras criaturas. Tenho certeza que para eles nós seríamos muito feios também.
-Um dia vou ver um índio. E vou ser amiga dele, viu?
-Ah vai? Não sei, meu anjo… Quem sabe algum dia um índio vem te visitar. Mas não vai querer ser amiga de um branco também?
-Ah não, eles são feios.
-Mamãe… Essa guerra que você falou, os índios queriam de volta a princesa deles?
-Não… Mas esse era o problema. Porque a princesa dos índios é diferente, porque ela também é a princesa dos negros… E até dos brancos!
-Mas não tem mais índios, nem brancos! Então a princesa agora é só nossa né?
-Eu não sei, querida… Eu realmente não sei.