A doze de junho do ano de Nosso Senhor de 1650, domingo, por volta do meio dia, cruzamos um tênue rio, ao qual os nativos nomeiam jequiá, ainda a caminho de nossa primeira parada de investigação. Piamã, o índio, realmente é competente rastreador, e salvou-me de uma víbora no meio da noite. Ao menos pude curá-lo com minhas habilidades, mas ainda precisamos conversar com algum especialista em medicamentos pois ele parece envenenado. Acho que com alguma pressa conseguiremos chegar à vila amanhã.
Espero que receba esta missiva, pois a entreguei a um jovem que passava à beira da estrada.
Com a benção do Senhor
Pe. A. Vieira.
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Sou Yakekan. Meu povo tem uma missão sagrada: afastar o reino da floresta do poder dos homens, e despistá-los quando procurarem as cavernas secretas do povo montês. Nesta terra, os homens que se aproximam do pensamento da floresta conectam-se com poderes ancestrais, pois os antigos habitantes de floresta e caverna carregam dentro de si um saber chamado magia. Eis que tais habilidades aos poucos se desvanecem, assim como seus portadores ocultos, porque o destino do reino escondido entre as árvores, o destino das cerradas portas que levam para dentro das montanhas, é desaparecer.
Acompanho um homem que está conectado com tais poderes: chama-se Vieira, e já vejo que suas ações manipulam a força invisível do vento e da terra. Ele tem como companheiro um homem que é aparentado com os meus, embora seu povo tenha esquecido as profundezas das matas.
Enfrentaram uma víbora que tinha seu ninho próximo ao lugar que escolheram para repousar à noite, e parece que um deles se feriu. A terra selvagem oferece perigos inesperados, e mais ainda aquela que ainda tem dentro de si os poderes.